terça-feira, 7 de junho de 2016

MEIO SEX AND THE CITY!!!




No Brasil, como a coisa é mais precária, não são quatro, somos apenas duas garotas! Mas vamos lá pro aniversário da Paty.
Duas gatas, solteiras e preparadas. O ambiente não é o habitual gls, é um bar com publico predominantemente heterossexual, com show de musica sertaneja, e não muito familiar.
Chegamos quietinhas pra não chamar muita atenção.
Jeans apertado, salto alto, e uma t’shirt branca, basiquinha, pra não chamar muito a atenção.
O medo nessa hora é o segurança “catar” que a gata é trans, e fazer a bonita ir pela fila dos meninos, só pra passar um pouco de constrangimento, mas a chegada foi tudo bem.
Mesmo com o documento tendo a foto de garota, e o nome masculino, as gatinhas passaram batidas na fila das meninas.
Só foi “uoh” a cara da segurança quando viu o documento, mas ela só arregalou os olhos, espantada e não disse nada! Depois da revista, a gente até ouviu um comentário, uma segurança cutucando a outra e falando que aquelas ali são bonecas!
Mas a gente finge que nem vê e pede um drink, se for pra esquentar a cabeça com cada olhar ou apontamento, melhor ficar em casa!
Encontramos a galera do salão, todo mundo animado e o teor alcoólico subindo!!! Os solteiros, freqüentadores habituais do local, notaram que tinha “carne nova no pedaço”.
Um grandão “traiado” de chapéu, bota e fivela, se aproxima dela e oferece um drink! A gata é toda charmosa, da umas risadinhas displicentes e não gosta de falar porque acha que a voz as vezes sai grossa e entrega! Rsrsrs nada a ver!!
Pro meu lado vem os bêbados, nunca vi! O cara até que era bonitinho, mas estava dançando até quando a musica parava, porque se ele parasse, ele caia!
Dei um “barra vento” e sai pela tangente, fui dançar com um cabeleireiro do salão. Ele é gay, dança igual homem, mas dá uma pinta! Ai eu já relaxei....
Se algum cara de repente estiver de olho em mim, me vendo grudada com a gay, já vai sanar suas duvidas quanto a minha condição. Isso vale ponto! Um constrangimento a menos...
A outra já ta beijando na boca e não ta nem ai pra hora do Brasil, ta com o “bofe” num canto já de romance, e eu vou pegar um drink no bar!
No balcão sempre rola uma cantada, já é estratégia dos caras. Tem alguns que até tomam a comanda da sua mão e te oferecem a bebida, mas não gosto de dar confiança!!!
Gosto das coisas as claras e não sou de fazer permuta!
Mas é cultural, muita gatinha chama a outra de “puta” porque ela cobra um programa, e acha que é diferente transar com o cara depois da balada que pagou a bebida a noite toda!! Eu acho que é tudo igual, mas não to aqui pra julgar ninguém... Mas também não curto muito quando o cara chega chegando e já vai com a mão onde não deve!!  Este se deu mal, por mais que eu estivesse ”aquendada”, a bulinada foi tão forte que ele sentiu um volume que ele não queria, ou que estava querendo tirar a prova de fato. Porém em nenhum momento eu tinha dado liberdade pra ele. Eu estava esperando minha bebida no balcão, e nem tinha visto o cidadão ali, ele veio do nada! Dei um empurrão nele, e um banho de cerveja! Não sou de causar, mas foi no impulso. Quando eu o empurrei, ele veio com a lata pra cima de mim, mas como ele estava sem muitos reflexos, ao me defender virei nele mesmo!
Seguranças a postos, já estavam de olho na situação, e tiraram o cara do local, que saiu gritando: É viado!! Vou te esperar aqui fora!!
Xiiiii, vai cansar de esperar, pois a balada ainda está começando a ficar animada!!!
Hora de sair de fininho e retocar a maquiagem.... fazer amizade no banheiro, ouvir as histórias das meninas que não falam outra coisa se não de seus relacionamentos, peguetes, casos etc.
O assunto no banheiro feminino, em balada hétero é só macho! E eu adoro ouvir!
Fiz até uma horinha a mais depois de fazer xixi e retocar a make, pra escutar o fim da história que depois eu conto! O namoro da menina foi hardcore!
Voltemos....
Logo que eu volto pra perto da turma, já noto que fiquei sozinha, minha amiga já tinha ido pra casa. Um rapaz que estava no meio da turma, me ofereceu uma bebida e lá fui eu tomar caipirinha! Foi uma de morango com vodka, e a segunda ele foi pegar e trouxe de kiwi!
Estava mais fraquinha e bem docinha, e depois de mais algumas musicas e ao final daquela caipirinha, eu só me lembro de alguns flashes!
Lapsos da minha memória vinham a minha mente de vagar, já no outro dia!
Acordei na minha cama, e não faço idéia de como eu cheguei lá.
Lembro de descer as escadas do bar, e de estar em um carro grande. Apenas isso!
Ainda atordoada fui até o banheiro e no vaso tinham dois preservativos usados.
Por um momento fiquei brava pois odeio esse tipo de coisa, e achei que fosse minha amiga que tinha jogado e não dado descarga, pois ela estava no quarto acompanhada. Mas ao voltar pra minha cama, encontrei as duas embalagens entre os lençóis!
Fiquei apavorada, pois não me lembrava de nada. Não sei se colocaram algo na minha bebida mas pelo menos, teoricamente eu tinha me protegido, caso realmente tenha acontecido alguma coisa.
Vasculhei a bolsa, o armário e a casa toda pra ver se não fui roubada, e tudo estava normal. Minha amiga disse que o rapaz que me trouxe ficou pouco tempo, usou o banheiro e logo foi embora, mas algo pior poderia ter acontecido! Valeu o susto e a lição.
Conversando com o pessoal do salão da Paty que estava no aniversário, descobri que era um infiltrado, e ninguém conhecia o rapaz....

Que perigo não?!

segunda-feira, 6 de junho de 2016

ALEM DO ESTUPRO!!! Por RAISSA ROSSETO



Eu ainda estava meio sonolento quando entrei no banheiro pra fazer xixi.
E no Box do banheiro ele estava tomando banho, mas isso era habitual em nossa família, ninguém nunca teve muita frescura com essas coisas. Todo mundo tomava banho com a porta do banheiro apenas encostada, pra que alguém usasse o sanitário se tivesse necessidade, já que só tínhamos um banheiro. Tinha muito amor e muita confiança ali.
O Box de acrílico escuro garantia privacidade para quem estava se lavando, mas ele não queria privacidade alguma e aquele era o momento certo.
Domingo de manha, todo mundo fora de casa, na feira, fazendo compras como culturalmente as famílias paulistanas fazem, e então o caminho estava livre.
Ele abriu um pouco a porta do box e me deu “bom dia” com um olhar malicioso.
Como eu ainda estava com sintomas de sono, levantei do vaso e fui saindo sem dizer nada, como se não tivesse visto nada.
Dei dois passos meio que cambaleando em direção a porta, quando ele abriu toda a porta do Box com uma mão, e segurou meu braço com a outra enquanto dizia baixinho:
-Vem Ca! (voz ainda suave e maliciosa)
-Tenho uma coisa aqui pra você, mas vai ser nosso segredinho... eu sei que você vai gostar mais não pode contar nada pra ninguém ta! (ai a voz muda, fica mais grave e a Mao que segurava meu braço agora aperta!)
Enquanto ele me trazia pra dentro do Box ele usava a outra mão pra alisar seu pênis, que estava duro, com pelos grandes e algumas bolhas de espuma.
Juntou meu corpo ao seu, e começou a esfregar em mim seu membro. Me segurava pelo cabelo e parecia se divertir olhando meus olhos estalados, e cara de pânico.
Logo ele introduziu seu pênis na minha boca, e pedia pra eu não gritar, mas lágrimas já rolavam dos meus olhos. A força da sua mão na minha nuca era enorme e me fazia ter ânsias, eu cheguei a tossir e engasgar. Meus olhos estavam muito vermelhos, então ele parou, me afastou contra a parede e gozou. Eu vi indo pelo ralo uma gosma branca, e ouvia gemidos de satisfação, mas não sabia que aquilo tinha sido um orgasmo. Eu tinha apenas onze anos*.
Também não tinha entendido direito que eu havia sofrido uma violência sexual, pois nunca ninguém tinha conversado comigo a respeito de nada disso, e eu já estava virando adolescente.
O mais louco de tudo isso, é a gente querer tratar um problema que vivemos agora, sem tratar a causa dele lá atrás.
O estupro, a violência sexual, a pedofilia, o estupro coletivo que hoje é o assunto do momento e tantas outras violências que vemos todos os dias, vão continuar acontecer até que o ser humano se olhe de igual para igual.
Não é pelos trinta homens que estupraram a menina, e isso é uma violência contra a mulher, e por conta disso vamos fazer leis mais rigorosas que as defendam. O problema só vai mudar de nome. Infelizmente a falha é do ser humano em seu todo, e o pensamento para as melhorias no mundo, não deve ser baseada em um gênero especifico. As regras pra gente “viver /conviver/ sobreviver” em sociedade, tem que visar o bem estar, e o limite do próximo, seja ele uma criança, que sofreu a vida inteira calada e conviveu com seu abusador a vida toda sem dizer nada a ninguém, ou um homem, ou uma mulher, ou um transexual, ou um gay, ou uma arvore! .... orever!!!! Chega de rotular, segregar e arrumar as beradinhas..
Eu pelo menos, estou cheia de ver isso!!!!!
Bad kisses....


*ps: quando eu disse, “onze anos”, algumas pessoas podem achar que já seria algo normal nos dias de hoje, pelo que vemos por ai. Mas esta história, que relativiza os casos atuais de violência sexual, foi escrita baseada em “fatos reais”.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

TAXIIIII.......



Acontece com as “amapô”, e com as “trans” também....
Aplicativo na mão, taxi chegando em dois minutos... Mas espera ai! O cara ta um pouco longe de mim pra pegar a corrida, tinham outros mais perto! Mas enfim, esperando!!!!
Esperando....
Esperando...
E ai?
Mensagem nova no app:
- Estou chegando!
Responder:  Ok!

Alguns minutos depois e o telefone toca:
Eu: Alô?
Taxi driver: Oi gatinha! Desculpa a demora, mas já estou chegando!
Eu: Moço, o senhor estava um pouco distante pra ter aceito a corrida, e eu estou atrasada!
Taxi driver: Eu tive que deixar um passageiro em outro lugar, por isso me enrolei...
Eu: Então além de estar longe, você estava com um passageiro? Por que não deixou outra pessoa pegar a corrida? Assim você me atrasa mais ainda.
Taxi driver: Desculpa loirinha, não sou de fazer isso, mas quando vi sua foto chamando um taxi não resisti!
Eu: tu..... tu.... tu.....
Desliguei a ligação, cancelei a corrida no app e dei sinal para um taxi que estava passando, fui salva!

Toca o telefone...
Poxa, desligou na minha cara e ainda cancelou a corrida gata? Que deselegante!
Eu: Amigo, eu pedi um taxi, não uma cantada!
Taxi driver: então Vai se   F*@#<... Sua Vagabunda!

Ainda tive que ouvir essa!!!

Pode?!

TRANSCENDER!



O descobrir a si mesmo, se transformar, transcender, desabrochar..... viver essa metamorfose que é ser um transexual, se realizar ao ver refletida no espelho a imagem que antes estava aprisionada dentro de si mesmo, se ver linda, encontrar um amor verdadeiro, ter uma profissão que seja digna, aproveitar as oportunidades, ter a família por perto te apoiando, ter estudado, enfim.... Tudo isso é muito lindo e gratificante, mas não é uma realidade comum a todas! Infelizmente...
E é ai que vocês vão conhecer o final da história. Não só da minha história, mas da maioria das transexuais desse país.
Certa vez ouvi de uma amiga, que “ser transexual é algo espiritual, algo como um castigo, uma maldição, ou uma espécie de feitiço”. Viver aprisionado em um corpo errado, é pior do que vestir uma roupa apertada ou um calçado que te machuca. A história que encerra esse livro é sobre esse aprisionamento. Que me remete a mesma maldição que  Rothbart  jogou sobre a princesa Odette, no “Lago dos cisnes”.
A relação que essa intertextualização cria entre a rainha dos cisnes e as transexuais não é apenas uma metáfora.
A sociedade é como o feitiço de Rothbart, que nos aprisiona dentro de nós mesmas durante o dia, pra que só à noite possamos tomar as ruas e ter uma vida normal enquanto a maioria das pessoas apenas dorme...

BOLSA BELEZA!



Ninguém disse que seria fácil, mas também não precisava ser tão difícil.
Tudo caro, a inflação que não para de subir, o dólar nas alturas e o preço da cirurgia plástica também subiu.
Próteses de silicone mais caras, a lipoaspiração então, suga a gordura e até o que está no bolso. Como vamos terminar a nossa transformação física e estética desse jeito?
Que as transexuais brasileiras são as mais belas e femininas todos já sabem, mas é uma rinoplastia aqui, um preenchimento com “metacril” ali, que se faz necessário a todas. as feminilações faciais, implante capilar, peeling, botox e por ai vai...
O sofrimento maior é o tratamento com lazer, que não tem anestesia e não acaba nunca, sempre tem um retoque pra fazer, um choque na cara pra levar e ainda pagar caro por isso. Mas é o preço da beleza! se a gente que se cuida, pra ficar bonitinha já passa alguns aborrecimentos por ai quando encontra algum sem noção pra rir da nossa cara como se agente fosse um alienígena, imagine os meninos que estão se descobrindo agora e começando se transformar?!
Ainda estão naquela fase meio em cima do muro, uma coisa meio andrógina, as vezes um menino mais afeminado, ou parece uma menina meio “machuda”.... affff é muita coisa pela frente!
E esse caminho ainda tem umas ciladas! Na pressa de atingir o objetivo final, a maioria das meninas recorrem a tratamentos clandestinos e perigosos como o uso do silicone industrial que é injetado no corpo pra dar volume e formas mais femininas.
Mas ai você deve esta pensando que esses “travestis” são todos loucos. E eu vou concordar com você e ainda dizer mais... louco, todo mundo é um pouco.
A transformação física de uma transex, é muito mais notável, praticamente uma mutação, mas essa busca pelas formas perfeitas, essas loucuras e exageros que vemos por ai, não é exclusividade nossa não.
Tem muita “modelo” por ai, que é mulher “cis”, que tem o corpitcho todo desenhado com o mesmo silicone que as bonecas usam, e até meninos que exibem  belos músculos nas academias por ai, mas que na verdade não foram fruto de malhação não!
Mas eu não queria fazer fofoca, só queria pedir pra economia melhorar porque eu sou uma bunda mole e não tenho coragem de me submeter a esses tratamentos, mas eu bem queria dar uma mexidinha aqui ou acolá, só que a grana ta curta!
Precisamos de um “bolsa beleza”.... só acho.

 Rsrsrrs!!!!!


imagem do filme: A PELE QUE HABITO!

FUTEBOL: TRANSEXUAIS X SOCIEDADE



Começa a partida!
Dado o ponta pé inicial no jogo da vida e a bola rola pra baixo do tapete, junto com nossos direitos civis. Entre um passe e outro, a gente vai tentando armar as jogadas pra continuar de pé na partida, mas não é fácil.
É o pastor camisa 13 que já chega dando um carrinho, com seus argumentos falidos nos cravos da chuteira, mas o juiz não marca nada!
Driblamos o preconceito pela direita, a marginalização pela esquerda, e no meio lá vem outro jogador com aquele velho enredo da prostituição, mas a bola sai pela lateral.
Nova estratégia, lateral cobrado e a bola vai parar na burocracia, e ai é falta!
Bate boca que não para, a garota só queria ser chamada pelo seu nome social e não o de batismo. Falta marcada, mas não era pra cartão!
Falta cobrada e a bola para na barreira do constrangimento. Jogadora caída na área, não agüentou o tranco e se suicidou. Retirada de campo, a partida continua.
O jogo vai esquentando, e é porrada que vem de todo lado, principalmente da intolerância.
Mas o adversário que ataca sem dó, esquece que dentro de um transexual, já existiu um homem tão forte quanto ele, que pra ta no jogo, teve que ter muito peito! Seja de silicone ou resultado do seu tratamento hormonal, esse time treinou direitinho pra enfrentar seus oponentes, e tem suas jogadas ensaiadas pra lidar com a imagem que criaram pra ele, e vai mudar isso no próximo lance.
Mas é derrubada na área do mercado de trabalho, e ai é pênalti!
Ela tenta se levantar, se prepara, se profissionaliza, corre atrás, se concentra e chuta!
Na trave.......
O juiz apita o final do primeiro tempo. Aponta o meio de campo, e está tudo empatado em zero a zero.
Mas o segundo tempo vai ter mudança, porque esse time veio com garra! E não ta pra brincadeira.



Raissa Rosseto.

POR DENTRO!!


Eu entendo que dentro de cada ser humano, existem duas forças. Uma boa e uma ruim.
Chamem como quiser: Yng e Yang, bem e mal, o anjo bom e o ruim, Deus e o Diabo, o cisne branco e o negro, a luz e a treva.... Orever!!!
São dois dragões.... Temos o livre arbítrio pra escolher qual devemos alimentar e fortalecer... se é o bom, ou o mal!
Algumas vezes nos perdemos no caminho, e alimentamos aquele que não deveria com atitudes indignas....
Alimentamos o anjo mal com o ciúme, a avareza, a ganância, a luxuria, o pecado, a inveja e tantas outras coisas que o bom senso de cada um é capaz de discernir ou não.
E nesta hora, deixamos de alimentar o lado bom, da caridade, amor ao próximo, respeito, solidariedade, compaixão e por ai vai....
É por isso que a gente erra tentando acertar, e vice-versa! Porque somos humanos, imperfeitos, e estamos de passagem nessa vida, para aprender e evoluir!!!!
E só alcançaremos tamanho grau de entendimento, e paz de espírito, se nos dedicarmos a fazer o bem sem olhar a quem.... a aceitar os defeitos do outro, como aceitam os nossos, sem julgar ou ridicularizar alguém que é diferente de nós, e respeitar o ser humano imperfeito, que está em constante aprendizado, como iguais que somos na nossa imensa diferença!
Vamos nos amar mais, mesmo que nos perdemos pelo caminho, o desvio também é caminho! E em toda caminhada, trazemos alguma bagagem valiosa para servir de lição ou alento ao outro!!!!!

O segredo da vida, é ser quem você é, e aceitar o outro como ele quer ser! E conviver em paz!!! Respeito é a base de tudo.










este é o texto de contra-capa do meu livro: Três Vidas...
 que é um relato sobre a transformação 
pela qual nós, transexuais, passamos e como vivemos.

Que "bixa" é essa...?


Confesso que às vezes me sinto nadando contra a corrente! Gosto de coisas que não condizem com a minha idade, ou com minha tribo, e meus amigos estranham isso.
Em plena era digital, onde cada vez mais as pessoas estão fazendo vídeos para expor suas idéias, e criando seus ‘”web-blogs”. Aparece uma maluca apaixonada por literatura, que ao invés de pegar uma câmera e começar a publicar um vídeo atrás do outro pra ganhar seguidores e disseminar seus pensamentos, ela prefere escrever!
OOOh!!
Será que estou desatualizada? Ficando louca? Ou estou criando uma forma de resistência?
Nenhuma das alternativas....
Estou apenas seguindo meu instinto e fazendo algo que eu gosto de fazer.
Sempre gostei de escrever, despretensiosamente.
É um hábito, uma forma de dizer o que eu penso e principalmente, uma forma de me entender como pessoa e lembrar isso sempre.
Ai você ouve uma piadinha e um sorriso de deboche, dizendo que não vai dar em nada! Porque no Brasil o povo já não lê. Se você vai escrever pra um público em especifico como os trangêneros, ou os lgbt´s em geral, ai reza a lenda que estes gostam menos ainda de ler.
-Mas a gente vive o dia todo em rede social, lendo um monte de besteira, por que não diversificar e ler algo diferente! Mas diferente do que?!
O fato é que eu escrevo porque gosto, sobre o que acho  interessante e relevante e vou continuar assim fazer pois me faz bem. Se alguém vai ler ou não, se interessar pelas minhas idéias, relatos, crônicas etc!!
Não sei, mas só por conseguir fazer já fico feliz.
Mas se engana quem pensa que nós não estamos antenados, lendo cada vez mais, as vezes sem nem perceber! Pode não ser um livro ou um jornal, mas cada “post” que se apresenta ou um texto de um blog na internet, já agrega.
E se vai dar em alguma coisa, só Deus sabe!


Bjs.... Raissa Rosseto.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Papo de Salão!!!! por Raissa Rosseto.

Minha cadeira é quase um divã.
Mas a terapia no salão sai mais em conta do que no consultório do psicólogo e a “paciente” ainda sai mais bonita do que entrou, então o custo benefício é maior!
Se o cabeleireiro for bom de papo ou pelo menos bom de ouvido, as histórias não param mais de chegar, e é cada uma mais cabeluda que a outra.
Vocês devem imaginar o quanto é difícil para uma transexual ter um emprego normal, mesmo que na área da beleza, que parece existir menos preconceito, mas a coisa não é tão simples assim.
As pessoas como eu, que têm uma identidade de gênero diferente da qual nasceu, precisam na maioria das vezes, provar seu profissionalismo constantemente, pois principalmente nós, mulheres transexuais, sempre vivemos com aquele “ranço” da nossa imagem atrelada a prostituição. As pessoas generalizam minha classe, como fazem com todas as minorias.
Agora veja só como são as coisas. Vou fazer uma fofoca, mas não é com o intuito de julgar ninguém, também nem poderia. Uma porque não sou santa e porque eu acredito que ninguém tem este direito. Mas essa história em especial me fez refletir!
Imagine que desde quando eu me transformei, e assumi uma identidade feminina, muitos olhares já foram dirigidos a mim, e comentários feitos ao meu respeito com o intuito de salientar o julgamento do acusador como se eu fosse promiscua e levasse uma vida libertina simplesmente pelo fato de ser uma “transex”.
Mas foi ai que eu quase derrubei o secador, tamanho susto que eu levei com o grito da minha cliente. Ela acabou de dar de cara com uma foto do pai do filho dela em uma coluna social na revista Caras.
O guri já tem quatro anos, e ela engravidou durante uma viagem a salvador, mas nem o nome do rapaz ela sabia.
Ainda ouvindo a história sobre a “pegação” que rolou na sua viagem, a outra cliente complementa a história e diz que seu filho também não conhece o pai, pois engravidou na única vez que transou com o entregador de pizza, e quando ligou na pizzaria pra saber o paradeiro do João, o entregador, o dono da pizzaria disse que não fazia idéia de onde ele poderia estar, e que o rapaz trabalhou lá apenas duas vezes e isso já fazia uns três meses.
Em uma época que rede social nem existia, foi um golpe de sorte o pai de um dos garotos, estar na pagina da revista. Ainda que nem famoso ele ficou não, mas se casou com uma cantora famosa. A garota contatou a assessoria de imprensa da “celebrity” , contou sua história, combinaram um encontro e o teste de DNA, que confirmou a paternidade.
Ai eu me pego pensando não só na questão da promiscuidade, dos jovens fazerem sexo casual sem o menor compromisso, mas sim na questão da saúde, da falta de proteção e de cuidado pessoal.
E você deve ta perguntando o motivo de eu ter contato essa história toda não é?!
Simplesmente porque depois de refletir sobre tudo isso, me pergunto:
Será que essa questão de promiscuidade é uma característica dos LGBTS, como a sociedade machista e preconceituosa tenta impor, ou é uma questão comportamental do ser humano por um todo, seja qual for sua orientação sexual?????

Bjs.... Raissa Rosseto


24 de agosto - Meu mundo caiu!

Acho que todo mundo já teve uma semana “Maysa”....
Aquela semana em que o mundo cai na nossa cabeça! Não sei se por coincidência, ou por um sinal do além, a minha semana Maysa, foi a semana em que comemoraria o aniversário do meu pai já falecido (que Deus o tenha)! Pode ser que ele esteja vagando por aqui, e bagunçando as coisas, pra não ser esquecido, tamanha era sua vaidade! Ou é apenas uma coincidência. Mas o fato é que ao girar a roda da vida, a seta apontou para baixo, e as mascaras caíram!
Como na musica da nossa diva, eu senti tudo que eu achava sólido, desmoronar como um castelo de cartas. Por um momento eu achei que apenas o dia do aniversario de papis, dia 24 de agosto, tinha sido um dia fatídico a ponto de me mostrar ou ensinar alguma coisa, cuja relação estabelecida com o astral ia me revelar coisas desagradáveis. Mas não! A semana seguiu, e as coisas foram acontecendo sem que eu percebesse. Até que a punhalada fosse dada de onde menos se esperava.
Tudo passa a ser relativo quando você se vê rodeado de traidores. A solidez de uma amizade ou de qualquer sentimento maior, passa a ser uma lasca do cristal que se partiu. E nada mais vai trazer de volta o mesmo brilho de antes! Depois de quebrado, perde se o valor e aquilo que ia virar lixo, nas mãos de um sábio artesão, pode ganhar uma nova lapidação e voltar a brilhar!

Mas até que ponto.... estamos dispostos a fazer com que esse brilho seja maior do que antes?
Essa restauração, de algo frágil e delicado como um sentimento, é mais trabalhosa do que a construção de uma nova jóia. Sim!!!! Sentimentos são como jóias, e devemos valorizar até mais do que o objeto que usamos, pois às vezes nem preço eles tem! Tão pouco valor!!!!  Mas essa jóia ninguém poderá roubar, por isso é tão inestimável... mas ainda que ninguém as veja para que as roube, alguém pode vir a destruí-la, sem nem mesmo perceber!
E ainda que despedaçado, aquilo que restou ainda brilha! De repente, olhando de longe, os cacos estilhaçados, brilham mais ainda do que antes, pois cada aresta que se criou ao partir, vai refletir mais luz. E as lições que tiramos daquilo que passamos é esse brilho “extra” que preenche a vista e nos cega a alma.
Se aquilo que se quebrou tiver valor, é hora de pegar cada pedacinho, e lapidar para que pareça novo de novo... Juntar os cacos não rola!  Se quiser colar, a cola vai ofuscar o brilho, então não tente remendar ou dar um jeitinho...  Cuide de cada pedacinho separadamente! Cada lasca do cristal, tratado com carinho, fará reluzir o brilho de antes. Mas quando for esfregar, faça com verdade!
Resgatar o brilho de uma pedra velha e quebrada, não é fácil! Mas a jóia restaurada terá maior valor!!! É como jóia de família, tem historia e valor agregado, sentimental e tudo! Mas não devemos valorizar pessoas, coisas e sentimentos baratos, para que depois não nos arrependemos.
Ops! 

Pronto!! Agora estou de pé novamente.... por um momento achei que estava falando um monte de besteira, dessas que guardo pra mim, engulo e quase me engasgo. Até porque prefiro assim fazer, do que jogar perolas aos porcos!!! Mas acho que foi só uma impressão! Deve ter sido por conta da pancada que eu tomei na cabeça quando o mundo resolveu desmoronar por aqui na minha cachola!!!! Mas já sacudi a cabeça.... tá tudo bem, é vida que segue!!!!  E os ensinamentos que ficam......  Bjs.

Raissa Rosseto.


aaaaaaaaaaaiiiiiii que loucura!!!!!

Esse “jargão” não é meu, claro!!... Mas hoje estou me sentindo meio Narcisa... Pois esse

bordão nunca fez tanto sentido! Mas eu precisava começar meu texto com um bordão, já que

é de praxe no mundo da bola. Imagina uma loucura maior do que uma transexual falar sobre

futebol? Ou até mesmo gostar do esporte! Mas sim... Gosto, torço e assisto!

Ainda criança, jogava bola forçada! Meu pai queria me ver jogando futebol, me botou

uniforme do Corinthians e me mandou pro campo, mas ninguém mandava a bola pra mim, eu

só corria feito uma barata tonta pra lá e pra cá... Mas pênalti, eu sabia chutar! Era a única hora

que eu chegava perto da bola e marcava gol, não era tão perna de pau assim não!

No colégio a coisa era diferente, o futebol era permuta! Pra poder completar o time de vôlei,

que eu gostava de jogar, eu tinha que fazer parte do time de futebol também. Mas tinha umas

regras! Já que me botavam no gol, onde ninguém queria ficar, meu time tinha que ter uma

zaga forte, pra eu não levar bolada! Quando ela vinha, eu queria é proteger minha cara, e a

defesa era só uma conseqüência! Era quase um balé. Mas acabei gostando do futebol.

É um esporte democrático, ou pelo menos deveria ser! Mas acabo assistindo de casa, pois

cada vez mais vejo que a torcida é mais intolerante! Já são uns contra os outros, em um

ambiente predominantemente masculino, imagine uma trans no estádio! A confusão que não

seria.

Meu time não vai jogar nesse domingo, mas não vou torcer contra o Palmeiras, como a

maioria dos corintianos vai fazer, nem a favor do São Paulo! Vou me jogar na parada gay da

paulista, pois acho que é um ato político importante pra pessoas como eu, terem os mesmos

direitos civis que vocês que estão lendo esse texto têm, pois somos todos iguais na nossa

diferença, e a diversidade deveria ser mais respeitada no nosso país que é tão diverso, seja de

gênero, de torcida, time ou qualquer outra coisa. Mas a gente vê que os torcedores querem

mais é se matar nas arquibancadas, independente dos resultados. Em um ambiente tão

intolerante, eu que não me atreveria ir ao Morumbi, mas na paulista vai ter trans com camisa

do Verdão, do Tricolor e até do Coringão! Vai ter torcedor “heterossexual” apoiando a causa

LGBTS e até beijando na boca. Pois temos direito de torcer também, mesmo que longe dos

estádios. Viu que loucura!!! Rsrsrs...

E esse direito é do brasileiro, apaixonado por futebol, seja ele o machão que vai brigar nos

estádios ou nas ruas, ou meu amigo gay, ou meu que sou trans, enfim! O direito de gostar e

torcer pra um time, vai além da restrição que a sociedade tenta criar, assim como em tudo

mais na mossa vida.

Agora é esperar o resultado dessas batalhas, na grama do Morumbi ou a do asfalto da

paulista! E vamos ver no que vai dar!!!

Deixa a bola rolar... é vida que segue.


***

matéria escrita para o Jornal esportivo Lance! o maior jornal de conteúdo esportivo do país. Muito obrigada pelo espaço e pelo convite Marcio Porto Santos.

link: http://m.lance.com.br/corinthians/nota/LANNWS20160528_327704